I
Embriagado de luz, tão à vontade
no barco de Odisseu quanto o velame,
ouves soprar as flautas de um enxame
que é mera tentação, pura metade
de uma meia-ilusão… Mas não te alarmes,
meu coração, o vento vem mais tarde,
Ítaca vai voltar: Circe e seus charmes
conseguem inebriar a alma covarde,
mas não por muito tempo. Eqüidistante
das coisas todas como a poesia,
o vento leva o ser sempre adiante;
malgrado a escuridão e a calmaria,
calma, meu coração: virá o instante
em que te vais somar à ventania…
[1958-9]